Se há tema que me apaixona é este que vos trago hoje para reflexão – “O contributo do Ayurveda e do Yoga para o estilo de vida moderno”.
Escrevo como Praticante e Professora de Yoga, que me abriu portas para a Praticante e Terapeuta Ayurveda, e assim revolucionou não só a minha prática de Yoga e forma de a transmitir aos meus alunos, mas afectou de forma irreversível a minha Vida e consciência do que pensava ser a Vida.
Escrevo como Lara Lima e com muita vontade de partilhar convosco a minha experiência pessoal (de mais de 20 anos) e profissional (seguramente com mais de 17 anos) com a proposta de conduzir a uma reflexão colectiva que ajude na aproximação destas duas ciências que podem voltar a mudar o Mundo se abraçadas em simultâneo.
Os 5 Corpos
Partes integrantes da filosofia Védica, o Ayurveda e o Yoga defendem que o nosso estado natural é um equilíbrio conquistado diariamente entre os cinco corpos, kosas, que nos definem enquanto Ser Humano:
- (1) annamaya kosa – corpo do alimento,
- (2) pranamaya kosa – corpo energético,
- (3) manomaya kosa – corpo mental,
- (4) vijnanamaya kosa – corpo intelectual e
- (5) anandamaya kosa – corpo espiritual.
Este conceito dos cinco corpos é o que de facto distingue estas duas práticas das restantes práticas terapêuticas que regra geral incluem apenas uma perspectiva física e mental. Porém, este equilíbrio não é um dado adquirido, de facto ele é facilmente perturbado por inúmeros fatores internos e externos, uns que podemos controlar outros que não. Por isso, para aqueles que vivem na sociedade actual marcada pelo stress, pela “ilusória” falta de tempo, procrastinada vida e falsa saudade eterna, exponenciam-se as centenas de coisas que fogem do controlo pessoal para além daquelas que, dependendo de nós, optamos por ignorar: a alimentação, as rotinas, a higiene de sono, o exercício, entre outras. É aqui que o Ayurveda e o Yoga se tornam ferramentas fundamentais para Viver com qualidade no estilo de vida moderno onde as más rotinas, a má higiene de sono, a má alimentação, as más práticas e o exercício inadequado imperam.
Mas não basta sincronizar os cinco corpos que como peças de um puzzle definem quem somos. É importante reconhecer que também nós somos uma peça de um outro puzzle maior mas que apesar de sermos apenas uma peça somos uma peça única e fundamental neste Oceano cósmico da Existência.
Somos parte de um Todo maior
Urge recuperar esta consciência que somos Seres perfeitos e completos e não peças inacabadas ou imperfeitas. Somos Uno com o Todo e não números em série de um mesmo modelo como o contexto actual nos quer definir, e pior como nos auto-reconhecidos e agimos imitando rotinas, exercícios, alimentação e padrões de comportamento sem questionar, sem pensar, como um programa instalado que definimos como crenças limitadoras que nos tornam mais autómatos do que Humanos.
Para voltarmos à consciência de Si precisamos de assumir de uma vez por todas as nossas individualidades, aquelas características que nos tornam únicos, o nosso DNA. Voltar ao lema TODOS DIFERENTES, TODOS IGUAI, hastear a bandeira da Tomada de Consciência, do olhar para o espelho e perceber quem é aquele que está no reflexo e para além do reflexo. Seguramente esse alguém é uma soma de experiências única com uma forma muito única de interpretar o exterior, de o digerir e metalizar e que por isso precisa de diferentes coisas pois mesmo o igual é por si diferente. Para voltar a esse que é o nosso estado natural precisamos primeiro de o reconhecer, reconhecer que uma banana que como vai-se tornar em “mim” mas que na verdade essa banana noutro corpo transforma-se noutro alguém. Esse é um dos princípios fundamentais de Ayurveda, aceitar que cada Ser Humano é um Ser Único, uma criação cósmica absolutamente perfeita tal como é.
Ao sincronizar Yoga e Ayurveda com as particularidades do indivíduo, potencializa-se a acção de ambas e ampliam-se os resultados terapêuticos uma vez que esta combinação obriga a adequar as práticas para as especificidades de cada um. Não se tratando apenas de adequar a prática ao desequilíbrio do indivíduo – vikritti, conduzindo-o à sua constituição original – prakriti, mas fazê-lo atendendo ao seu contexto familiar, profissional, social e espiritual. Ou seja, fazer o Indivíduo se conectar em Si, na sua verdadeira natureza.
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Dosha – o nosso biotipo
Determinar qual o nosso biótipo, combinação única de características físicas e mentais, é conhecido no Mundo Ayurveda como determinar o Dosha (aquele que decaí e que por decair se torna visível): Vata, Pitta e Kapha. Estas forças, apesar de presentes em todos nós, e até na natureza, organizam-se em combinações específicas que diferem de pessoa para pessoa mas que numa abordagem mais superficial se podem classificar em um de 7 tipos: Vata, Pitta, Kapha, Kapha-Pita, Vata-Pitta, Kapha-Vata e Tridosha. A maioria das pessoas são uma combinação de dois doshas, o que significa que é provável que se reconheça em dois dos três tipos.
Cada dosha é um conjunto de atributos referentes a dois elementos fundamentais:
- Vata (ar+espaço),
- Pita (fogo+agua) e
- Kapha (agua+terra)
e, por isso, possuem diferentes características que carecem de diferentes conselhos relativos à nutrição, relaxamento e exercício (inclusive diferentes asanas – posições de yoga – e técnicas de meditação).
O pequeno resumo que se segue é meramente ilustrativo e não substitui a consulta com um Terapeuta Ayurveda, nem se sobrepõe às indicações de um Professor de Yoga certificado.
As pessoas com predomínio do dosha Vata são normalmente magras, ativas, entusiastas e idealistas. São também comunicativas e falam muito depressa, mudam de ideias facilmente e são muitas vezes criativas e entusiastas, se em equilíbrio. Quando em desequilíbrio, sofrem de insegurança, stress e medo.
Se identificado com este tipo, quer no desequilíbrio quer na constituição original, fique a saber que o yoga é extremamente importante. Sem yoga, vai ser difícil ou mesmo impossível encontrar paz. Depois de uma sessão de yoga, vai sentir-se calmo e tranquilo, o que vai estabilizar as suas emoções e deixar espaço e energia suficientes para a meditação.
Na prática de Yoga sentir-se-á melhor com práticas calmantes e lentas, bem ao estilo do Yin Yoga, Yoga Integral, Yoga Restaurativo. É também importante selecionar asanas que estimulem o intestino grosso, p.e. posições sentadas e torções pois os Vata sofrem frequentemente de gases e obstipação.
Em relação às técnicas de meditação são ideais o Japa pois promove a repetição de um mantra, ou associadas a um Pranayama. Ambas as técnicas promovem o silêncio e a “ligação à terra”.
As pessoas de predominância Pitta chegaram até aqui acendo a cabeça se concordaram com o que leram ou se não concordam ou sentem ameaças já julgaram, criticaram e rotularam este artigo.
Quando estão equilibrados, são indivíduos de estatura normal e boa composição corporal. Possuem um metabolismo forte, o que normalmente os torna indivíduos saudáveis. Ficam rezingões quando estão doentes e apesar de parecer que vão morrer ficam bons em 24h como se nada se tivesse passado. São perspicazes, encantadores, assertivos e apaixonados.
Mentalmente são personagens decididas que perseguem os seus objetivos de forma obstinada não havendo nada que os impeça de alcançar a meta. Quando em desequilíbrio, os Pitta sofrem de ira e irritabilidade e não é bom ser o obstáculo que o impede de chegar ao seu fim.
Se é altamente entusiasta, o Yoga vai apaixoná-lo pela sua técnica, principalmente em métodos como o Ashtanga Yoga, Vinyasa Yoga e Iyengar Yoga e vai distinguir-se no lado técnico do yoga.
No entanto, certifique-se que não se esquece no lado espiritual. Escolha um Professor ou uma escola que lhe proporcione práticas completas onde pode sentir o esforço fisico associado a uma disciplina respiratória rigorosa, técnicas de purificação e relaxamento e sempre que tiver oportunidade integre-se em workshops sobre a filosofia para poder estudar e satisfazer o seu desejo de conhecimento (característica clara de um Pitta em equilíbrio).
Tenha como objetivo sair da sessão de yoga com uma sensação de satisfação e relaxamento, sem o sentimento de competição ou irritação. Apesar de não serem as posturas mais cativantes para um Pitta a verdade é que posturas frontais que estimulem o fígado e área intestinal são as preferenciais pois Pitta tende a ter “maus fígados”.
As pessoas com predomínio em Kapha têm corpos mais redondos ou quadrados, bastante densos e pesados e são normalmente muito sensíveis, carinhosos, amáveis e muito tolerantes. Em equilíbrio lidam bem com o stress e têm uma energia estável irradiando força, resistência e estabilidade. Porém desequilibrados, são preguiçosos, fogem de desafios e lidam com o stress através de depressões.
Para os Kapha o Yoga é a actividade física mais apetecível pois no Ocidente é frequentemente conotada com pouco esforço. Porém os Kaphinhas precisam de algo dinâmico que os faça suar e desafiarem-se. Uma boa proposta seria associar a prática a caminhadas.
Os doshas Kapha devem optar por posições estimulantes e reconfortantes, como as torções.
É também importante que se foque no estômago, pulmões e zona do peito com poses como o vjrasana, ardha chandrasana ou surya namaskar.
Artigo escrito pela Terapeuta Lara Lima, do BMQ, Coimbra.
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