Tudo muda?
Incrível como tudo muda sem nada ter mudado realmente. Todos os anos fazemos de conta que fechamos um ano, falei disto no artigo do mês passado “a importância de fechar ciclos” mas fechar um ciclo não é mudar de página, começar um novo livro ou fazer resoluções confiante de que o novo ano vai ser melhor. Fechar um ciclo é percebermos os padrões que não precisamos repetir e criar uma disciplina que os assuma e acima de tudo assuma uma mudança no padrão. Não importa se mudamos cores, fios ou direções, o que importa mesmo é mudar e essa foi a proposta de 2020, mudar.
2020 entrou de mansinho, nem tínhamos percebido ainda o tanto que a nossa existência era perene e frágil, mas era, é. 2020 trouxe essa aprendizagem. Aprendemos que nada é para sempre e que o que é hoje não tem de ser amanhã. Aprendemos a ver a nossa família na perspectiva do utilizador e o trabalho como algo fundamental e não como um argumento para a lamúria das segundas feiras. Aprendemos a gerir emoções, tempo livre e silêncio. Aprendemos? Será que aprendemos mesmo?
Ao olhar para 2021 creio que o melhor mesmo é reformular o parágrafo anterior. Tivemos a oportunidade de aprender mas não aprendemos. 2021 parece mais um ano para repetentes, uma turma em que quem aprendeu a lição anterior vê com entusiasmo e perspectiva este novo ano, o que nada tem a haver com o pesar e reconhecimento do sofrimento mundial e, os que crêem já ter aprendido algo, vêem este momento de forma depreciativa e até com certa revolta. Mas a verdade é que quem não aprendeu tem agora uma nova oportunidade de aprender. Uma oportunidade seguramente diferente pois os colegas e professores são diferentes, talvez até o programa. Por isso, que tal nos deixarmos de birras e de emoções à flor da pele e reformularmos o pensamento e forma de agir?
Se no ano anterior fomos heróis numa guerra que não travamos este ano fomos chamados a mostrar a nossa armadura. Para ser herói há que agir, ainda que a não acção possa ser uma acção bem importante. Para ser herói há que assumir responsabilidade e liderança. Num momento em o SNS colapsou e todos tentam fazer o seu melhor somos chamados à responsabilização dos nossos actos. Tomar conta de nós, não nos deixarmos abater no campo de batalha, não nos deixarmos ferir para sermos mais um peso nas costas de quem se esforça por lutar por aqueles que sucumbiram. Ser herói é sair de trás da máscara, largar medos de uma realidade que ainda existe para todos os seres vivos mas que ainda não é a tua, e parar de apontar dedos a outros como se tivesses herdado a estrela de xerife da verdade.
Re – confinar
É importante fazermos a nossa parte no pouco que podemos controlar. Não podemos fugir para sempre e achar que escondidos o bicho não nos apanha mas podemos seguramente reforçar o nosso sistema imunitário para que no dia em que “o bicho nos pegue” ele mesmo se arrependa e saia vencido da batalha.
Se somos criativos em tanta coisa, capazes de qualquer proposta DIY, numa era em que a distância é a distância de um clic como é possível nos mantermos confinados ao sofá, à comida, ao serviço “take away” e à brilhantina das redes sociais?
Estar confinado não é um argumento para a preguiça mas um motivo para a actividade e criação de novas rotinas pessoais Pró saúde.
Estar confinado não impede de sair de manhã cedo para caminhar, correr, andar de bicicleta ou ficar em casa a praticar Yoga, TaiChi ou Pilates.
Estar confinado é uma oportunidade para aprender novas formas de andar, mexer, dançar ou qualquer outra actividade que obrigue o corpo a movimentar-se. Movimento gera sentimento, e dos bons. Ao exercitarmos o nosso corpo produzimos endrominas que nos deixam mais alegres, tranquilos e com menos probabilidade de nos chatearmos com as pequenas frustrações do dia. Sim, pequenas frustrações porque parece-me que a grande frustração passa por ter um familiar internado e não o poder visitar, ter alguém próximo que morreu sem termos tido oportunidade de nos despedirmos ou querermos respirar sem o conseguirmos fazer com facilidade. Produzir endorfinas é uma forma de escrever com o corpo “Vai ficar tudo bem” pois escrever em arco-íris está comprovado que não resulta. Não resulta porque não interessa fazer de conta. Não, não vai ficar tudo bem. Não por agora, não por uns tempos. Mas tudo se vai resolver, um dia, quando este ciclo se fechar e se abrir um novo. Mas não esperem uma meta, uma bandeira quadriculada, um prémio, uma data, uma garrafa de champagne.
Estar confinado não é argumento para deixar de cozinhar e fazermos sociedade com o serviço “take-away”. Sim, claro que devemos ajudar o negócio de restauração mas sem nos matarmos. Noutros tempos ir ao restaurante era reservado para dias de festas e, garantidamente ainda vais ter algumas datas para celebrar em confinamento por isso reserva para essas datas o “take-away” e lembra que podes sempre ser responsável no pedido lembrando que a saúde deve estar no topo das prioridades. Temos em nós uma grande engenharia de defesa alicerçado ao sistema imunitário que é o tipo de combustível que lhe colocamos. Se o teu corpo tem de se defender da toxicidade que ingeres voluntariosamente estará menos disponível no caso de ser chamado a combater a pandemia dentro de ti se estiver a combater outra epidemia como o colesterol elevado, a diabetes ou a hipertensão.
Se fores olhar para os artigos anteriores nesta rubrica vais encontrar muita coisa interessante sobre uma forma mais inteligente de se viver, aliás este é o tema desta rubrica mensal AYURVIDA. Mas recomendo que leias o texto de Outubro, incrivelmente actual.
Rotinas sugeridas
Para aqueles que gostam de deixar tudo arrumado numa mesma leitura, reforço algumas rotinas sugeridas para este confinamento.
- Acorda cedo, mesmo antes do dia amanhecer. Abre as janelas e faz umas respirações profundas com o ar fresco de um dia que ainda não começou mas está já a espreitar.
- Agradece pela manhã a oportunidade de acordar. É um milagre este de termos um novo dia pronto a estrear, um dia em que ainda existe vida lá fora e cá dentro. Um dia novo é uma nova oportunidade.
- Levanta-te, vai fazer o teu xixi, evacua se sentires vontade, raspa a língua, lava os dentes e toma um copo generoso de água morna para dar os bons dias ao teu sistema digestivo.
- Toma banho, lava as ideias, os pés e as axilas. Se puderes canta, não precisas sentir vontade.
- Faz exercício, uma caminhada, sair com o cão, um jogging matinal ou estica o tapete de Yoga. Inscreve-te em aulas para sentires o efeito de grupo e perceberes que não estás sozinho e teres a oportunidade de agradecer a possibilidade da tecnologia ter avançado para algo tão bom que te permite exercitar sem sair de casa.
- Arruma a casa, lê um livro, joga um jogo se tiveres companhia se não faz um scroll pelos teus contactos e inicia conversas da treta.
- Para quê tomar pequeno almoço se não vais sair? Aproveita para almoçar mais cedo percebendo a tua fome.
- Arruma a cozinha, a casa, lança desafios a ti, aos outros. Escreve. Dança. Pinta. Procura um DIY e reinventa a tua criatividade (não te preocupes em ficar bonito ou perfeito porque em princípio não precisarás de fazer disso profissão).
- Aproveita as tardes que já se conhecem e faz um pouco mais de exercício, bate os teus recordes, gasta a sapatilha.
- Janta cedo.
- Descansa antes de dormir, desliga a TV, as redes sociais e coloca a leitura em dia.
AMANHA COMEÇA TUDO OUTRA VEZ.
E lembra-te que todos os dias amanhece um novo dia. E com ele a oportunidade de começar de novo.
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Lara Lima
Terapeuta de Medicina Ayurveda, Coimbra