Depressão, Ansiedade e Ayurveda

Nos últimos 6 anos, enquanto coach e terapeuta holística, várias foram as pessoas a lutar contra a ansiedade e/ou a depressão que chegaram até mim.

Neste último ano de 2020, aumentou ainda mais o número de pessoas com este tipo de transtorno mental/emocional e pacientes que já estavam melhores regrediram e outros novos apareceram.

Talvez esta tenha sido a razão motivadora que me levou a ir mais além e a procurar algo que pudesse ajudar a fazer a diferença no processo terapêutico destas pessoas. Acabei por encontrar o Ayurveda, ou talvez o Ayurveda me tenha encontrado a mim, a verdade é que quanto mais aprendo, mais sinto que esta era a peça que faltava e que posso realmente ajudar mais e melhor quem me procura.

É certo que ainda estou a aprender, mas quanto mais aprendo, pesquiso e procuro, mais me encanto com o Ayurveda e mais acredito que o Ayurveda me dá uma visão do paciente como um todo e como o ser único e individual que cada um deles é.

A grande maioria das pessoas que chegam até mim vêm já de algum tempo de tratamento na medicina alopática, muitas delas fartas de tomar medicação que as faz sentir ainda pior e de sentirem que nunca se iriam conseguir livrar destes transtornos, como muitas me dizem “Tenho depressão crónica, mas estou farta disto”.

Se antes já o sabia, agora tenho a certeza de que com a ajuda da Medicina Ayurveda é possível ajudar todas estas pessoas a sair do pesadelo que é a depressão e a ansiedade, ajudando-as a encontrar o equilíbrio que tanto desejam.

Depressão e Ansiedade segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde)

Segundo a OMS, a Depressão é um transtorno mental caracterizado por tristeza persistente e pela perda de interesse em atividades que normalmente são prazerosas, acompanhadas da incapacidade de realizar atividades diárias.

Por sua vez a Ansiedade é uma reação natural do corpo em resposta ao que está por vir, tem a sua origem na reação de “luta ou fuga” que permite reagir perante uma situação de perigo eminente, o problema começa quando o corpo está permanentemente neste estado, não sendo capaz de voltar ao seu ponto de equilíbrio, fazendo com que tenhamos uma reação exagerada comparativamente à gravidade do possível “perigo” ou situação.

Atualmente, estima-se que existam no mundo mais de 350 milhões de pessoas com este tipo de transtorno, e infelizmente é muitas vezes um problema ainda negligenciado, devido ao desconhecimento e às informações erradas que existem sobre a depressão e a ansiedade.

A depressão e a ansiedade encontram-se entre as doenças mais frequentes na população mundial e foi considerada pela organização mundial de saúde como “o mal do século XXI”, pelo largo número de pessoas que são atingidas pela depressão em todo o mundo, pode dizer-se que é a Epidemia silenciosa do Século XXI.

O desenvolvimento acelerado da sociedade, trouxe consigo um estilo de vida propicio à ansiedade e à depressão, a falta de tempo, a correria constante e as exigências a que estamos expostos diariamente fazem com que facilmente entremos num desequilíbrio psicoemocional e numa espiral de emoções que nos levam a estes transtornos mentais.

Desde muito cedo que nos exigem tudo, ainda em criança começam por dizer que já não pode dormir com os pais, que já não pode usar fraldas, que já não pode usar chupeta, etc, depois as exigências vão aumentando, porque já devia saber ler, porque já devia saber isto e aquilo. De seguida começa as exigências profissionais e os relacionamentos e as comparações e sem darmos por isso entramos numa espiral louca de exigências e comparações e já não somos nós mesmos.

Talvez seja neste ponto, quando nos deparamos com esta realidade em que muitas vezes podemos ter tudo o que se desejaria, mas temos uma sensação de vazio e de falta de realização que começamos a perceber que algo não está bem e é aqui que muitas vezes os que nos rodeiam, sem se aperceberem, ainda nos deitam mais a baixo.

“Então, mas porque estás triste? Tens tudo o que muitos gostariam de ter?” Sem perceberem que o que nós queremos, aliás o que nós somos é único e que não é aquilo que eu quero, pode até ser o que esperam de mim, mas não é o que eu quero e assim sem darmos por ela estamos deprimidos e ansiosos.

Então, mas e o que o Ayurveda tem de diferente?

 

Quando comecei a aprender medicina Ayurveda, uma das primeiras coisas que nos ensinaram foi a definição de saúde segundo a OMS e qual a visão do Ayurveda, então vejamos, segundo a OMS “A saúde é o estado completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças ou enfermidades”, o Ayurveda tem uma visão semelhante, mas acrescenta o bem-estar espiritual, podemos encontrar este conceito no Charaka Samhita (um dos textos base do Ayurveda) “Os Doshas em equilíbrio, o fogo digestivo em equilíbrio, os tecidos em harmonia, as excreções adequadas, a alma os sentimentos e a mente em harmonia e saúde.”

Logo por aqui podemos começar a perceber que o Ayurveda trata o individuo como um todo, mas vai ainda mais além, trata também cada um de nós como o ser único e maravilhoso que é.

O corpo e a mente são interdependentes e inseparáveis na nossa vida, por esta razão a depressão ou a ansiedade afetam a saúde física e o contrário também é verdade.

Para que possamos entender melhor qual a visão do Ayurveda no que respeita à depressão, a ansiedade e nem só, importa referir algumas coisas, nomeadamente que todos nós nascemos com uma constituição original, a que se dá o nome de Prakriti, que é a nossa natureza única e individual no momento da nossa criação enquanto ser.

Importa também saber que esta Prakriti é composta por três qualidade primárias a que se dá o nome de Gunas e que se dividem em Sattva, Rajas e Tamas, através das Gunas que têm mais presença em cada individuo, conseguimos perceber a natureza mental de cada pessoa.

Apesar de cada individuo ser único, para o Ayurveda importa também saber qual o tipo de humor biológico de cada um, a este humor biológico, dá-se o nome de dosha e todas as pessoas podem ser enquadradas em sete doshas prakriti.

Os trigunas dão-nos a constituição psicológica, os pancha mahabhutas a constituição física e dos tridoshas a constituição fisiológica do individuo.

Apesar desta prakriti original não mudar, os doshas podem sofrer alterações de proporção, o que leva ao desequilíbrio da nossa constituição, a isso dá-se o nome de vikriti, a vikriti representa a constituição adquirida ao longo da vida.

Ora bem, com isto por base, conseguimos entender que na origem da depressão e da ansiedade, está um desequilíbrio da nossa constituição original (prakriti) através de um descontrolo das gunas Rajas e Tamas. A perturbação da mente a este nível, está relacionado com o desequilíbrio do dosha Vata, o agravamento de vata deprime a mente, gera medo, tristeza, sensação de necessitar de ajuda, etc.

Ao analisarmos os subdoshas, ficamos ainda a saber que a supressão do subdosha Udana Vayu, cria depressão e que se Tarpaka kapha estiver diminuído, dá descontentamento, mau estar, nervosismo e insónia.

Sabemos que o Ayurveda procura aumentar o estado de saúde através dos seus dois princípios de tratamento, Samanya (Semelhante) que nos diz que “Semelhante aumenta semelhante” e Vishesha (Diferentes) que diz que Oposto cura oposto, assim tendo por base tudo o que vimos até agora, iremos ter como objetivo ajudar a pessoa com depressão e ansiedade a encontrar o seu equilíbrio e a sua prakriti original.

Segundo o Ayurveda, existem várias formas de ajudar a pessoa com depressão e ansiedade, mas teremos sempre por base os dois princípios de tratamento vistos anteriormente.

Julgo que o principal é fazer com que o paciente adquira hábitos mais saudáveis, quer alimentares, quer de pensamento, através de rotinas diárias que promovam o equilíbrio dos doshas e das gunas, como alterações na alimentação e técnicas de meditação, ou de manipulação corporal, e também a utilização de ervas e fitoterápicos e de exercício físico.

O Ayurveda mostra-nos que muito pode ser feito, e que é possível atingir o equilíbrio que quem nos procura tanto deseja, sendo que é importante referir que em casos de pacientes que estão a fazer medicação alopática, é importante reforçar que não devem deixar a medicação abruptamente, mas que com as alterações que o ayurveda nos trás é possível gradualmente recuperar a saúde e voltar a ter uma vida saudável e feliz.

E assim…

 

Este é um tema que me é próximo e que é muito vasto e abrangente, o Ayurveda trouxe-me uma nova visão e uma nova perspetiva de como ajudar os pacientes que me procuram com este tipo de transtorno psicoemocional e sinto que poderia escrever muito mais, como a relação que existe ente o cérebro e o intestino grosso, como tem sido tema falado recentemente, “O intestino grosso é o nosso segundo cérebro” ou será o primeiro? Também neste tema o Ayurveda me trouxe mais esclarecimentos e uma nova versão, mas isso será tema quem sabe para um outro artigo.

Por agora e em jeito de síntese, quero apenas dizer que com o Ayurveda sei que conseguirei ajudar mais e melhor quem me procura e que apesar da vontade de cada um em recuperar a saúde seja o principal, o Ayurveda pode ser a luz ao fundo do túnel que tantos pacientes procuram, afinal todos nascemos para ser felizes e o Ayurveda lembra-nos isso e mostra-nos o caminho de volta a essa realidade.

Nidia Avelino

1.º Ano do Curso de Terapeuta de Medicina Ayurveda

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