Ayurveda: uma perspetiva Ocidental

Vivemos presentemente um período de vida da Humanidade em que a Saúde se tornou o foco central. Perante uma ameaça à nossa própria Saúde, e daqueles que nos são mais próximos, muitos são os que tentam otimizar a sua saúde de diferentes formas. Seja para se prevenir ou, nos casos mais graves, para oferecer ao seu corpo e organismo a melhor hipótese de sobrevivência e recuperação.

Hoje em dia, são muitos os profissionais de saúde que se deparam com utentes debilitados e com patologias graves que podiam ser evitadas através dos cuidados primários, isto é, através de uma medicina preventiva com vista a educar e a manter a população informada.

A saúde não pode ser vista apenas como meramente a ausência de doença, é também essencial que nos sintamos saudáveis. Algo que por vezes possa ser fácil de esquecer e tido como algo adquirido e impossível de perder.

Uma das consequências dos vários confinamentos que temos experienciado, é a crescente noção de como nos sentimos a vários níveis, levando-nos a uma crescente consciência do estado da nossa própria Saúde.

Enquanto Enfermeira tenho uma experiência hospitalar de mais de dez anos, abrangendo desde os mais pequenos aos mais graúdos e seniores com histórias de vida maravilhosas. Aos poucos fui acumulando momentos bons, mas também insatisfações e principalmente uma sensação de que muito do que fazia ficava aquém. Fiquei, e ainda fico, várias vezes a olhar para familiares/utentes a saírem da unidade com um manto invisível de derrota por cima dos ombros, um rasto que tanto me afeta.

Sou testemunha de utentes cujas faces espelham um olhar desprovido de respostas, como se nunca tivessem sido ouvidos muito embora todo o discurso do médico ocidental tivesse sido abrangido de forma apropriada à situação em questão, e tempo dado a quaisquer dúvidas.

A medicina ocidental não lhes falhou no que fui testemunhando, mas então, o que falhou? Porque razão não é suficiente? Começava a questionar-me.

A medicina alopática, não lhes falhou no sentido de como funciona e no conhecimento que abrange e dispõe. No melhor cenário possível, tenho testemunhado e sentido a sensação do quanto fica por fazer, sem se saber como. Questionamo-nos enquanto equipa e profissionais e muitas vezes, depois de tudo revisto, o resultado final e sensação não mudam.

Foi na pediatria que o meu sentimento de insuficiência começou a ser mais forte e onde realmente comecei a procura e eventualmente entrar noutro percurso, de poder ampliar a saúde do outro. Comecei por acrescentar as massagens infantis no meu currículo com toda a consciência que dificilmente seria aceite dentro das portas hospitalares. Mas foi naqueles dias de formação onde tudo mudou e uma pequena porta ao que já procurava se abria. A combinação de diferentes ramos desde yoga, reflexologia, aromaterapia em conjunto com a filosofia e principalmente com as diferenças notórias a olhos vistos a cada semana, tornou-me impossível olhar para trás ou ignorar o que acabava de aprender e constatar. Tinha chegado a um ponto importante para mim. Eu precisava explorar, abranger mais, aprofundar, compreender como funciona, havia muitas questões e uma curiosidade.

Todos os ramos que combinavam o que tinha aprendido não me eram completamente estranhos pois já os tentava incluir no meu dia-a-dia e ainda assim algo havia mais que a tornava tão eficaz. Poucos meses depois percebi que no meu futuro, a Medicina Ayurveda, iria fazer parte do meu percurso profissional também.

A Medicina Ayurveda

É uma medicina holística, inclui uma componente espiritual, além da parte física, emocional e social, como indicadores de Saúde e contribuidores para a manutenção da mesma.

O desequilíbrio inicia-se antes de apresentar sintomas pois algo causou uma mudança tão grande e prolongada que o corpo começou a manifestar alterações. E assim, todos os sistemas são avaliados para saber quais estão em desequilíbrio mesmo que para a pessoa, aparentemente, nada esteja alterado. Todas as componentes estão interligadas e assim a ausência ou diminuição de um sistema estará a afetar um outro sistema.

Assenta numa filosofia que todos os elementos que compõem o Universo, encontram-se também no Ser Humano. Desta forma, as respostas poderão ser encontradas com auxilio a elementos naturais e não sintéticos, e assim são aconselhados ajustes no dia-a-dia, que vai desde alimentação ao exercício físico. As respostas aos desequilíbrios são, à primeira vista, mais simples, mas por vezes implicam mudanças de rotinas e hábitos, que nem sempre são bem aceites. Por este motivo os resultados tendem a não ser imediatos, dependem não só da gravidade do desequilíbrio mas também da motivação e empenho em adotar as recomendações.

O mesmo terapeuta tem capacidade para avaliar todos os sistemas e áreas de vida do paciente e dar resposta.

Mesmo não havendo desequilíbrio, a Medicina Ayurveda foca muito na manutenção e prevenção da Saúde, no seu potencial máximo de cada pessoa, ajudando assim a prevenir o surgimento de desequilíbrios, existindo de forma diária, em todos os momentos, e consciente.

A Medicina Ocidental/Alopática

Medicina baseada e assente no sistema de prática-evidência o que significa que diagnósticos e tratamentos são definidos com base em estudos controlados e ensaios clínicos que produziram determinados resultados. Isto dá ao profissional uma linha de orientação para o tratamento, mas também umas expectativas para possíveis resultados, sejam estes os desejados ou não.

Grande foco na observação da doença quando instalada e no respetivo tratamento seja físico ou mental. Apesar de reconhecer que todos os sistemas anatómicos e fisiológicos estão interligados, na grande maioria das vezes o tratamento é focado nos sinais e sintomas, seja de forma médica ou por vezes cirúrgica, com uso de medicação química. Produz assim resultados e alívio dos desequilíbrios mais rápidos.

Apesar da sua formação base ser comum, é uma medicina dividida em múltiplas especialidades pelo que, no mesmo caso/situação, por vezes se possam encontrar mais do que um médico a fazer parte da equipa.

Apesar de bem-intencionada, muitas das campanhas de prevenção e educação da população sobre hábitos de vida saudáveis, não refletem os resultados pretendidos, demonstrando pouca aderência.

Mantém constante o estudo biológico do corpo humano e desenvolvimento de novos tratamentos e respetivas técnicas. Tal como o melhoramento de materiais necessários aos vários procedimentos.

Tanto a Medicina Alopática como a Medicina Ayurveda, embora com métodos e abordagens distintos, pretendem promover a saúde e uma resposta a alterações da mesma.

Manter a nossa Saúde e uma sensação de estar saudável implica uma consciência de como vivemos o dia-a-dia. O que comemos, o exercício que fazemos, o stress e todas as emoções e sentimentos que vivemos e como o digerimos ou não, o nosso estado mental e emocional que em muito influenciam as nossas ações e intenções, são fatores que irão determinar a qualidade da nossa saúde.

A Medicina Ayurveda, incluí ainda um elemento espiritual e de viver em concordância com quem somos e aquilo que verdadeiramente pretendemos realizar com a nossa própria vida e para a mesma. E de como tudo no universo e na natureza está interligado.

A saúde de cada indivíduo é uma responsabilidade individual e também coletiva. Neste sentido, ainda que aos poucos, os profissionais de diferentes medicinas têm ampliado os seus conhecimentos, ao incluir mais do que uma medicina e abordagem na sua prática. Aumentando assim a prática e a qualidade da mesma em prol de quem a procura.

Ana Bettencourt
Formanda 1º Ano do Curso de Terapeuta de Medicina Ayurveda