Uma das coisas que me apaixona no Ayurveda é a Vida e sua aceitação exclusiva e inclusiva.

Se por um lado o Ayurveda defende a exclusividade da Vida, ou seja, tudo o que a Vida apresenta é exclusivo da própria vida não podendo ser cedido ao passado, futuro, memórias, certezas, outros contextos, pessoas, situações ou comandos. Por outro lado, o Ayurveda é altamente inclusivo pois não há nada que gere dúvida ou não seja aceite. Se é Vida é aceite tal como é, aqui e agora. Não que a mudança não seja permitida. A mudança é fruto da Vida e por isso não só é aceite como tornada facto a ponto de não existir como acto. O que existe é o acto em si, gerando um após o outro, mudança sendo ela vista tão só como vida.

Não aceitar a mudança é não aceitar a Vida pois são sinónimos.

Não aceitar os factos é fazer birra de gente grande.

O tempo muda, é um facto, porém o Sol e o Sal nos seus atributos mantêm-se constantes. O Sol será sempre quente e o Sal salgado. O Sol vai aquecer e o Sal vai secar, assim como a terra vai continuar a girar. Sol e Sal são fundamentais à Vida humana então porque fazer deles agressores?

A pele, o sal, o sol e o Ayurveda

Será possível que algo do qual depende a Vida seja em si mesmo destruidor da criação? Ou seremos nós responsáveis pelo impacto do Sol e do Sal em nós? Até ver nunca ouvi relato de uma pilha de Sal sair a correr atrás de alguém com um martelo para aumentar a tensão, ou o sol qual cuspidor de fogo a carbonizar pele alheia. Pelo contrário, ambos dão sinal ao corpo no caso de excesso de consumo.

O Sol alerta pela excesso de exposição mudando a cor e temperatura da pele e o Sal alerta ao excesso de exposição picando na língua, fazendo as pernas incharem e a pele partir. Sinais bem claros de exposição excessiva a estes elementos mesmo para os mais distraídos.

Talvez seja esta sapiência da Natureza que ao perceber a nossa limitada experiência Humana se enche de compaixão e nos ensina através do maior órgão do corpo humano, a pele. Só para ter a certeza que não escapa a ninguém independentemente da sua natureza e/ou estilo de vida.

• Pitta: pele vermelha, com sinais, quente e oleosa.
• Kapha: pele fria, húmida, grossa e com edema.
• Vata: pele seca, fina, fria, áspera e desidratada.

Talvez seja efectivamente esta clara harmonia entre a Natureza e o Ayurveda que justifica as inúmeras referências Ayurveda à saúde da pele, muito mais além do que a dermatologia ou o simples uso externo de cosméticos ou protectores.

Para o Ayurveda quando falamos em saúde, em geral ou especificamente neste contexto dermatológico, falamos em nutrição. Um não existe sem o outro e ambos dependem do recurso aos óleos naturais, especialmente o de sésamo por possuir a capacidade de nutrir e prevenir os sinais de envelhecimento, melhorando e estimulando a circulação. Porém, peles demasiado sensíveis ao calor poderão encontrar melhores resultados no óleo de coco e no óleo de grainha de uva. Para prevenir e corrigir traços de envelhecimento, as malfadadas rugas, nada como um bom óleo de argão, ghee ou a aplicação de um shatawari-ashwagandha taila (um óleo medicado
com ervas tónicas e rejuvenescedoras).

A melhor forma de aplicar estes óleos é através de técnicas de massagem específicas como a abhyanga (oleação profunda e completa), o udwartana (exfoliação específica com ervas e especiarias seguida de oleação).

Dieta e hidratação – uma pele saudável

Claro que uma dieta adequada faz a diferença e se queremos o bronze perfeito precisamos de nutrir a pele para que receba o Sol e o transforme em brilho e cor em vez de secura e queimação, principalmente quando combinado com o Sal. Desta forma não só ele se manterá por mais tempo como com uma cor de imediato dourada que reflete o brilho que existe dentro.

O melhor protetor solar é sem dúvida uma boa hidratação. Alguns exemplos de tónicos para nutrir o plasma e consequentemente a pele são:

• a água de coco (que nos deve acompanhar dos primeiros aos últimos dias de sol),
• o buttermilk, ou soro do leite (uma receita rápida é adicionar a um iogurte natural, quatro partes de água, uma pitada de sal preto e uma colher de sopa de sementes de cominhos e triturar bem, beber esse tónico ao longo do dia e fazer sempre fresco a cada dia),
• sumo de romã e
• àgua de rosas (que se pode adicionar a um chá, água mineral ou até colocar num borrifador e ir borrifando no rosto e pele exposta ao longo do dia. Não só vai dar um aspecto óptimo à pele como vai encantar pelo cheiro).

Entender e partilhar desta vida em harmonia com a natureza, seus elementos e características é viver em ecologia pessoal, no meu entendimento. Sobre este entendimento e abordagem podes saber mais informações através de www.bmqbylaralima.com.

Despeço-me por aqui prometendo regressar em Setembro.

Lara Lima
Terapeuta de Medicina Ayurveda, Coimbra

 

Fotos:

skeeze, silviarita from Pixabay