Filosofia Sankhya e o Ayurveda

A filosofia Sankhya é uma das seis filosofias de vida da India (Darshanas) e é considerada como sendo a mais antiga. É nesta filosofia que estão as principais bases do Ayurveda.

A palavra Sankhya deriva de duas palavras em sânscrito distintas: san e khya; san significa verdade e khya saber/compreender, ou seja, compreender a verdade suprema.

Foi desenvolvida pelo rishi indiano Kapila Muni e tem como principal objetivo fazer a distinção entre o espírito, ao qual dá o nome de Purusha, e a matéria, nomeada de Prakriti.

Sankhya, para além de dualista, também significa enumeração, onde diferencia 24 princípios cósmicos (tattvas), referentes à criação e manifestação do Universo. Cada principio atua como agente ou causa do principio seguinte.

Para além destes 24 princípios, existe ainda um 25º que se encontra para além da manifestação: Purusha, ou Consciência Pura. É pura energia, passiva, sem forma ou cor, para além de qualquer atributo e sem qualquer papel na criação. Este é o derradeiro principio por trás da criação do Universo, é a fonte de tudo o que é subjetivo estando para além de tudo o que é objetivo, ou seja, Purusha não faz parte da criação e não é composto por qualquer tipo de matéria, não é corpo nem mente, que pertencem à matéria, mas sim, a consciência inerente a esta. É através da ligação com Purusha que nos sentimos como indivíduos conscientes e não meros objetos ou instrumentos.

Dizem os textos que o objetivo final do Ayurveda é (re)conectar o sistema corpo/mente com Purusha, o derradeiro poder curativo, a verdade suprema, o estado que transcende o ser e a existência.

O 1º tattva é Prakriti (matéria), a energia criativa que, ao contrário de Purusha, tem forma, cor, e atributos. É inerente a esta que se encontram os três gunas, ou qualidades universais – sattva (luz, clareza), rajas (movimento, paixão) e tamas (inércia, confusão). É a matéria primordial que contém todo o potencial da criação.

Através da energia potencial de Purusha e do poder criativo de Prakriti gera-se o Universo na sua forma manifestada. Enquanto Prakriti cria todas as formas no Universo, Purusha mantém-se como mero observador à criação. Pode-se assim dizer que o Universo surge do ‘ventre’ de Prakriti, sendo por isso também apelidada de ‘Mãe Divina’.

Imagem de Dr. Vasant Lad

Na presença de Purusha, os gunas dentro da Prakriti, que se encontravam em perfeito equilíbrio na Prakriti primordial, entram em desequilíbrio e desencadeiam o processo de evolução, dando origem ao tattvaMahat (inteligência universal) e Buddhi (intelecto individual), responsável pelo funcionamento adequado de todas as coisa. Este, por sua vez, dá origem ao tattvaAhamkara (ego), o processo da diferenciação entre o “universal” e o “individual”.

Da interação entre Ahamkara e os gunas sattva e rajas, surgem:

  • O 4º tattvaManas, ou mente condicionada, forma através da qual Ahamkara se vai relacionar com o Universo, usando como ferramentas os órgãos sensoriais e motores (descritos de seguida);
  • Os gnanendriyas, ou capacidades / órgãos sensoriais (5-9º tattvas): escuta / ouvidos, toque / pele, visão / olhos, paladar / língua, olfato / nariz;
  • Os karmendriyas, ou capacidades / órgãos motores (10-14º tattvas): expressão verbal / boca, preensão / mãos, locomoção / pés, procriação / genitais, eliminação / ânus.

Da interação entre Ahamkara e os gunas rajas e tamas, surgem os tanmatras, ou energias primordiais/subtis (15-19º tattvas): som, tato, forma, paladar e odor; e, por sua vez, os mahabhutas, ou cinco elementos (20-24º tattvas): éter, ar, fogo, água, terra.

MAHABHUTASTANMATRAGNANENDRIYAKARMENDRIYA
ÉterSomOuvidosBoca
ArTactoPeleMãos
FogoVisãoOlhosPés
ÁguaPaladarLínguaGenitais
TerraOlfatoNarizÂnus

Cada mahabhuta é produzido pelo seu antecessor e é mais denso que o anterior, pela ordem descrita anteriormente. Assim, o elemento terra contém si os restante quatro elementos, a água, os restantes três, o fogo, os restantes dois e o ar também contem em si o éter.

A partir da terra originam-se todos os corpos físicos do reino animal e vegetal, bem como todas as substancias inorgânicas do reino mineral. Pode-se assim dizer que, a partir dos cinco elementos surge toda a matéria como a conhecemos.

Autores:

Manuela Taveira
Sofia Rodrigues
(Alunas do Curso de Terapeuta de Medicina Ayurveda 2019)

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